Especialista em sustentabilidade orienta sobre hábitos que geram qualidade de vida
Medidas simples podem ser incorporadas no dia a dia das pessoas e da comunidade, contribuindo para a saúde do planeta
Ela tem uma convicção: a sustentabilidade é um bem comum, indispensável para o planeta e deve ser praticada por todos — de indivíduos (desde a infância) às grandes multinacionais com atuação em todas as partes do mundo, passando por instituições públicas. Para isso, a bióloga e doutora em Ciências, Manuela Gazzoni dos Passos, além das aulas ministradas na universidade há 12 anos, e execução de projetos de pesquisa e consultorias, está usando a comunicação como aliada para falar com os diferentes públicos. Autora dos livros “Pegada verde” e “Andando em círculos”, que pretendem despertar nas pessoas a consciência de entender a sustentabilidade na prática, a professora usa os perfis @manupassos_oficial e @expert_emsustentabilidade, no Instagram, para compartilhar informações e conhecimento, dando sua contribuição para que o Planeta Terra, lar de quase 8 bilhões de pessoas, possa manter-se saudável e abundante. Hoje e sempre.
E é Manú Passos quem reflete conosco sobre sustentabilidade no dia a dia, com dicas práticas e viáveis, para serem adotadas em pequenos apartamentos, casas com quintal e, por que não, compartilhadas com os colegas da firma. Manú lembra que 22 de abril, Dia Mundial da Terra, é uma data propícia às atividades e reflexões sobre os impactos que o planeta sofre com as ações de indivíduos e da coletividade, mas que não devem estar restritas a um único dia. A manutenção da vida na terra é uma questão inadiável e está contemplada na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um documento proposto pela Organização Mundial das Nações Unidas e chancelado pelos mais de 190 países membros, dentre eles, o Brasil. Num esforço mundial, medidas devem ser tomadas para que a todas as formas de vida prosperem.
A especialista conta que preservação e cuidado com o meio ambiente sempre fizeram parte das suas aulas, mas a grande mudança aconteceu quando ela percebeu que os alunos necessitavam de algo mais. “Percebi que não bastava só falar de meio ambiente, precisava fazer com que meus alunos entendessem o todo, o porquê de cuidar do meio ambiente e que isso estava alinhado não só com as questões ambientais, mas sociais e econômicas também”, lembra. Manú conta que sempre encontrou pessoas bem intencionadas, que demonstravam desejo de ser mais sustentáveis, mas não sabiam por onde começar. “Percebia nos meus alunos que existiam muitas dúvidas de como fazer. E foi aí que entendi que precisava ajudar não só a eles, mas, também, outras pessoas”, explica, citando que iniciou esse desafio pelos livros que a levaram às redes sociais.
E foi durante a quarentena que a virada digital aconteceu na abordagem de Manú Passos. “No início da pandemia resolvi criar e-books para auxiliar os idosos da instituição em que trabalho com atividades para se ocuparem durante a pandemia. Para minha surpresa, o primeiro e-book teve uma grande repercussão”, relata, acrescentando que professores e pais também começaram a pedir ideias de atividades para crianças. “Percebi que através do meio digital poderia impactar mais pessoas e tem sido assim. Tenho conhecido pessoas incríveis do Brasil e inclusive do exterior, durante os cursos, palestras e seminários virtuais”, enfatiza.
Na entrevista a seguir, Manú Passos fala sobre consumo consciente, responsabilidade pessoal com os resíduos desse consumo, necessidade de se preocupar com a origem de tudo o que usamos, além de compartilhar dicas para um viver mais sustentável.
Considerando o Objetivo 15, Vida na Terra, que destaca a necessidade de “proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade”, como indivíduos, famílias e comunidade podem contribuir para que o Objetivo possa ser alcançado?
MANÚ PASSOS — Pensando que tudo o que é produzido vem de um recurso natural. Sendo assim, precisamos ser responsáveis desde a produção de um produto, sua vida útil, até sua destinação final. Se consumirmos de forma inadequada, consequentemente precisaremos de mais recursos naturais, teremos mais resíduos para destinar, e estamos mais susceptíveis a esse resíduo acabar no ambiente causando um sério problema ao ecossistema.
É possível ser sustentável no dia a dia com o modelo de economia de consumo predominante?
MANÚ PASSOS — Sim, é possível! Precisamos entender que ser sustentável não é deixar de ter as coisas, de consumir. O que muda aqui é que consumimos com responsabilidade, considerando se realmente aquele produto é necessário, pensando como ele foi produzido, se responsabilizando com toda cadeia produtiva, desde a produção até a destinação final, quando se tornar um produto inservível.
Quais os maiores gargalos que as pessoas enfrentam ao entender a necessidade de serem sustentáveis e mudarem seus hábitos?
MANÚ PASSOS — O primeiro que gostaria de citar é a falta de conhecimento. Estamos deixando de escolher melhor as coisas, muitas vezes, porque deixamos a praticidade tomar conta da nossa vida. Como é o caso de uma simples ida ao supermercado. Com a correria do dia-a-dia muitos vão preferir adquirir um produto pré-pronto do que preparar em casa. Não param para pensar que estarão “consumindo”, também, as inúmeras embalagens e, mesmo tendo uma alimentação que talvez não seja tão saudável, a forma de consumo acaba sendo o problema.
Outra questão é achar que ser sustentável é caro. Precisamos entender o custo-benefício. Em um primeiro momento talvez tenha que investir em algo que não é descartável, por exemplo, e que possivelmente seja mais caro. Porém a curto prazo esse custo será diluído no tempo de uso do produto.
E, por fim, achar que é difícil ser sustentável. Costumo dizer que as pequenas ações já começam a fazer a diferença e transformar nosso entorno. Começamos a “contaminar” outras pessoas que começam a fazer também, e logo estamos em quantidade buscando a transformação.
Como você percebe a evolução na oferta de produtos e serviços mais focados na sustentabilidade na última década? Eles já cabem no bolso do cidadão brasileiro?
MANÚ PASSOS — Tem crescido muito, principalmente pela cobrança do consumidor mais consciente. Até um tempo atrás comprar escova de bambu se tornava caro, pois além do valor da escova tínhamos que pagar o frete que normalmente estava sendo enviado de grandes capitais, e com isso encarecia muito o produto. Além disso, as escovas que tinham eram de pequenas empresas e que muitas vezes produziam até de forma mais artesanal. A realidade mudou e hoje já encontramos no supermercado escova de dente de bambu, vendida inclusive por grandes marcas. Torço muito que nos próximos anos isso se intensifique ainda mais, para dar oportunidade as pessoas de escolher melhor e de forma acessível.
Precisamos entender que quando comparamos um produto feito à base de plástico (que é barato) e que é descartável, talvez, no primeiro momento vamos achar que vale a pena continuar com o descartável devido ao custo inicial que enxergamos. Porém se considerarmos o tempo de uso, quantidade de recursos naturais dispensados, o custo do ambiente, sem dúvida o descartável não é o ideal e é o mais caro. Precisamos considerar o tempo de vida do produto e olhar como investimento.
Como o cidadão pode promover a sustentabilidade no local onde mora, trabalha ou estuda?
MANÚ PASSOS — Fazendo a sua parte, se informando como funciona na sua cidade, estar atento para empresas e marcas que buscam a sustentabilidade e diante disso, ESCOLHER melhor. Mas o primeiro passo é começar.
Como ser sustentável sem ser considerado um “ecochato”?
MANÚ PASSOS — Dando exemplo e trazendo conhecimento. Uma das premissas que entendo que muda o comportamento das pessoas é quando elas entendem o porquê daquilo ou disso. Criei inclusive com meus alunos e seguidores o termo “ecolegal”, que são as pessoas que mostram através de atitudes, que sim, é possível ser sustentável sem ser chato, sem pegar no pé das pessoas para corrigir posturas que só dependem da consciência delas.
Não espere
Utilizando o conceito dos 5Rs da Sustentabilidade Ambiental — repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar — Manú Passos dá dicas de como as atitudes sustentáveis podem ser adotadas no dia a dia, a partir de agora. Elas estão organizadas em três níveis, de acordo com o grau de dificuldade (fácil, médio e difícil) e custo/investimento financeiro.
POSSO FAZER AINDA HOJE
Desligar as lâmpadas dos cômodos que não estão em uso
Levar a própria caneca/garrafinha para não usar copos descartáveis
Reduzir a quantidade de sacolas plásticas no supermercado
Separar os resíduos em orgânico e reciclável
Lavar os resíduos recicláveis (pode-se usar água do enxague da máquina de lavar)
Separar as roupas que não são mais usadas e estejam em boas condições para doar
Conferir nos rótulos a origem dos produtos que você se alimenta
Deixar de comprar coisas desnecessárias
PRECISO ME ORGANIZAR
Substituir todas as lâmpadas pelos modelos mais econômicos, como LED
Comprar copos ou xícaras reutilizáveis para ter no ambiente de trabalho
Ter uma ecobag para levar as comprar para casa
Separar os resíduos em três porções: orgânico, reciclável e rejeito
Entender que do outro lado são pessoas que fazem a triagem e separação dos resíduos manualmente
Comprar somente o que for necessário
Na alimentação, usar a máxima desembalar menos e descascar mais
Guardar o dinheiro economizado para realizar projetos
AINDA FAREI
Instalar painéis solares
Não usar mais descartáveis de uso único
Levar e usar sempre a ecobag em todas as compras
Ter uma composteira em casa para destinar todo o resíduo orgânico
Conhecer uma cooperativa de catadores para verificar como é o processo
Comprar de empresas responsáveis ou brechós
Comprar apenas produtos orgânicos e regionais
Adotar um estilo de vida minimalista, tendo o necessário e não o supérfluo
Sobre Manú Passos
Manuela Gazzoni dos Passos, a Manú Passos, é Bióloga e doutora em Ciências, apaixonada pela área ambiental e pela sustentabilidade. Mora em Chapecó, onde é docente e pesquisadora na Universidade do Oeste de Santa Catarina. Atua como Consultora nas áreas de sustentabilidade, gestão ambiental, educação ambiental e licenciamento ambiental, realizando capacitações empresariais, palestras e cursos. Autora dos livros “Pegada verde” e “Andando em círculo”, também é coautora, juntamente com Geisa do Prado, dos livros “Práticas em educação ambiental” e “Práticas em ciências e biologia” e, recentemente, participou da publicação de “Valioso Despertar”, escrito com colegas e idosos.